Por Sérgio de Souza Carvalho Jr.
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5 – Equipe preparada consegue melhores resultados – Entre as diversas atividades que os colaboradores devem desenvolver em seu dia a dia, algumas dependem muito do tipo de preparo e equipamentos que a equipe vai usar para dar resultados. Não dá para cobrar produtividade e, consequentemente resultados, de quem não foi devidamente treinado e possui as armas adequadas para cumprir sua missão.
O case de David e Golias é um dos casos mais emblemáticos desse conceito, ainda mais quando levamos em conta que essa batalha provavelmente foi travada a milhares de anos segundo a Bíblia, e até hoje serve de exemplo para várias situações.
Pela ótica militar David estava bem preparado, pois havia treinado muito a pontaria com sua besta (tipo de arma em que se atira uma pedra com alta velocidade e impacto no adversário), e a própria besta era a arma ideal para ele que, em desvantagem de tamanho, não poderia chegar perto de Golias para um combate corpo-a-corpo com espadas ou lanças.
No caso de David, a vitória aconteceu por uma conjunção positiva de fatores, além de uma estratégia bem definida e executada. David sabia que não podia chegar perto de Golias, e por isso usou de um “equipamento militar” e de caça, que proporcionasse que ele atingisse Golias fora do seu raio de ação, ou seja, Golias não podia atingir David nem com uma espada ou lança, mas a pedra podia ser lançada por David bem longe, sem falar que o uso da besta foi tão inédito para Golias, que este não se preocupou em se defender adequadamente perante David.
Quantas vezes no mundo corporativo você viu sua equipe bem treinada e preparada, usando os equipamentos certos para trabalhar? Notebooks de pouca performance, internet de baixa velocidade para empresas de alta tecnologia e vendas on-line, equipes de operações e campo fazendo visitas com celular de pacotes de dados pequeno e em carros sem ar-condicionado em pleno Sertão nordestino… isso não lhe é estranho? Se for familiar então cuidado com os pequenos Davids da concorrência.
Veja esta matéria que interessante, e que ilustra bem um case empresarial de David contra Golias: http://hbrbr.uol.com.br/david-e-golias/
Fica a dica: não adianta só treinar sua equipe, dê a ela as armas que necessitam para desempenhar bem seu papel, ou o tiro vai sair pela culatra.
6 – Inovação – Sabe o radar utilizado para controle de tráfego aéreo, ou multar os apressadinhos nas estradas? E o ultrassom que é usado para ver o sexo dos bebês? Eles têm em comum a sua origem militar, pois foram desenvolvidos para uso bélico e depois utilizados na vida civil. Assim como todo o protocolo de atendimento de pessoas acidentadas com poli traumatismos, que foi criado na época da Guerra do Vietnã para soldados atingidos por minas e granadas, e hoje é usado nos hospitais para salvar vidas de quem teve um acidente grave.
A inovação é muito recorrente no meio militar, porque um dos conceitos mais usados pelas Forças Armadas de todo o mundo, é a ter a “vantagem tática” sobre o inimigo através do uso de armas mais fortes e/ou mais efetivas. A supremacia bélica é construída com armas de última geração, que podem destruir o inimigo antes que ele o faça com você.
E esse espírito de inovação é tão arraigado na cultura militar, que a base da criptografia que você usa hoje para comprar produtos via Internet, veio das máquinas Enigma usadas pelas tropas alemãs na Segunda Guerra para se comunicarem há mais de 70 anos, e por causa delas a criação do primeiro super computador usado para ajudar ao Aliados (EUA e Grã Bretanha) a decifrar as mensagens enviadas por essa máquina e seus códigos secretos.
Mas hoje em dia a palavra inovação não está sendo usada da forma tão intensa quanto deveria ser nas organizações. Quantos produtos parecem mais do mesmo? Cópia da cópia? Um festival do Control C + Control V? E aí entram até as “modinhas empresariais”, de redes de varejo à alimentação por exemplo (vide as paleterias), que oferecem muito da mesma coisa para um público que acaba sendo impactado em excesso, o que gera até o final do consumo (e das redes) depois que a moda passa.
Inovar é um processo que exige pessoas pensando em inovar, com foco no negócio e suas possibilidades de ampliação em todos os sentidos. Se na sua empresa não tiver pelo menos uma pessoa ou comitê de gestores (composto por gerentes, diretores, etc…) pensando em como melhorar a gestão, a produtividade, novos produtos/serviços, parcerias, sistemas de TI que realmente agreguem em produtividade e lucratividade, você pode correr o mesmo risco que os alemães na Segunda Guerra, quando tiveram seus códigos secretos de mensagens desvendados: a derrota!
E a necessidade de inovar os militares aprenderam em duras lições nos campos de batalha, quando o inimigo os surpreendia com mais e melhores armas, e é a principal lição que eu estou passando para você: tenha um pensamento estratégico voltado contra a acomodação! Sim, de nada adianta achar que já venceu a guerra!
Enquanto sua empresa é a líder de mercado e dorme sobre os louros da vitória recente, a concorrência está pensando em como conquistar seus territórios, e o pior, inovando mais do que você!
Veja essa matéria sobre camuflagem “invisível”: https://br.sputniknews.com/defesa/201706078587140-russia-capa-invisibilidade-militares/ Imagine se o seu oponente ficasse invisível no seu radar?
E agora, imagine que você nem tem um radar para saber onde estão seus clientes. Qual a sua chance de vencer na guerra dos negócios?
7 – Meritocracia – Uma das maiores dificuldades das empresas em motivar e engajar seus colaboradores, é conseguir que estes trabalhem motivados e engajados com as “missões” que devem participar. Mas muitas vezes o que as próprias empresas esquecem, é que as empresas são formadas por pessoas e não por um CNPJ.
Os soldados seguem bem mais um grande líder do que apenas um uniforme que nada representa para eles, tanto que muitas vezes houveram casos de tropas que se recusaram a cumprir ordens de maus líderes, e preferiram desertar ou serem prisioneiros de guerra.
E um dos conceitos de gestão que mais fazem sentido para um líder com pensamento militar, é justamente a meritocracia. Ela representa uma forma de gestão empresarial altamente positiva, em que os comandados vão respeitar e seguir o líder que apresentar seu valor, devidamente reconhecido por conta de suas “condecorações”, e fruto da sua atuação em campo. A gestão pelo exemplo do líder, é uma das bases da gestão sob pressão das Tropas de Elite, até por conta do alto grau de perigo que essas tropas atuam e precisam ter confiança em seus líderes.
A meritocracia deve premiar quem realizou uma determinada tarefa, seja com prêmios como o melhor vendedor do mês, atendente na lanchonete, ou destaque na empresa, e deve-se fazer “barulho” dessa premiação, pois assim o premiado será o exemplo a ser seguido e admirado. E é necessário que as regras sejam bem claras de como atingir os objetivos, assim como os critérios de julgamento sejam isentos para a escolha de quem merece ganhar sua medalha.
Você já reparou que os atendentes de algumas redes de fast food usam um crachá com vários círculos, onde são colados adesivos de tarefas ou conhecimentos que aquela pessoa já aprendeu? Isso é uma parte da meritocracia sendo exposta para todos: colegas e clientes, e é com muito orgulho que os colaboradores tiram fotos ao lado da plaquinha “funcionário da semana” com seu nome, e depois mandam selfies para amigos e parentes.
Quando bem aplicada, a meritocracia rende grandes frutos pois impulsiona as pessoas comuns a saírem do lugar comum. Se você tiver um soldado em sua equipe, que não deseja ganhar uma medalha se quer, ou ele está desmotivado por conta da recompensa que vai receber (ou nem vai ter), ou o líder não é um líder motivador porque também não teve sua cota de meritocracia.
Você já reparou que os grandes generais possuem várias medalhas em seus uniformes? Como sua empresa premia quem se destaca? Os líderes dão o exemplo e reconhecem os méritos da sua equipe? A meritocracia deve ser implantada de cima para baixo na hierarquia das organizações, com regras claras de ascensão na carreira, até para que as pessoas possam se espelhar em alguém e buscar ter o mesmo reconhecimento. E esse retorno vem para a própria organização, que ganha em produtividade e consequentemente lucratividade.
8 – Disciplina e organização – Quando se fala em gestão militar, um assunto vem rapidamente a cabeça: a disciplina férrea que existe nas unidades combatentes, o que à princípio parece algo ruim para quem é leigo no assunto. Mas a disciplina pode ser uma grande aliada em sua carreira profissional, junto com o aprendizado das técnicas de organização, pois elas permitem que seu desempenho como profissional e até em sua vida privada, sejam ampliados de forma bem positiva.
A disciplina militar prega o respeito aos superiores, que seguir as regras de segurança vão salvar sua vida, e até que acordar um pouco mais cedo, todo dia, para fazer academia ou esteira, pode fazer você ter mais saúde e felicidade.
Você não precisa ficar berrando sim senhor ou não senhor, como aparece nos filmes de guerra quando o recruta está aprendendo a ser soldado, mas pode ser uma pessoa disciplinada e organizada com seus horários de chegada no local de trabalho por exemplo. Sabe quando você chega um dia levemente atrasado(a) no trabalho? E aí chega com atraso no dia seguinte, no outro, e no outro? Pois é, pode parecer que seu chefe não liga, mas ele liga sim, e isso será usado contra você em uma eventual chance de promoção.
Sabe aquele seu colega que entrou como estagiário (ou recruta) junto com você, subiu na empresa e já tem até a sua própria “trincheira” (sala)? Pois é… ele costuma chegar no horário, entrega seus relatórios à tempo, quando seu chefe pede uma informação ele tem ela fácil na tela do computador? Com certeza ele é disciplinado e organizado. Mas isso não significa que a pessoa que é disciplinada e/ou organizada não seja criativa, pois até para trabalhar em agências de propaganda é preciso organizar as ideias, certo?
Os soldados de Esparta na época da antiga Grécia antes de Cristo, venceram os soldados de Atenas na guerra do Peloponeso em 404 a.C., porque eram disciplinados, tinham bons líderes e estavam super motivados em defender a sua vida e da sua família contra a escravidão. Isso te diz alguma coisa?
Ter disciplina e aprender a ser organizado(a) é algo que se pode conseguir quando há a motivação correta, ou seja, pegue algumas das dicas anteriores, junte com essas, olha no espelho e pergunte a si mesmo(a): que tipo de combatente eu sou? Onde quero chegar? Como posso colaborar para que a minha empresa possa vencer?
Para as organizações, algumas funções exigem que os colaboradores sejam extremamente disciplinados e organizados, pois sua atividade fim precisa que a pessoa tenha essas habilidades além do conhecimento técnico para a função. Você já viu o pessoal da área financeira desorganizado? Eu já, infelizmente, e isso quase foi o motivo da empresa fechar. Em minha consultoria eu tive que mudar o “pelotão” e o líder do departamento, porque o Financeiro era o coração da empresa e também seu calcanhar de Aquiles.
Só depois de trocar as pessoas da área e trazer uma nova equipe, é que a empresa começou a sair de uma situação ruim financeiramente, com problemas de fraude, pagamentos de juros por atraso devido a falta de pagamentos nas datas corretas, entre outras situações, devidas à má gestão e falta de disciplina e organização, e evoluiu para uma empresa saudável.
Tire os preconceitos da gestão militar da sua cabeça! Comece a pensar em como pode aproveitá-los em sua carreira profissional ou para sua empresa prosperar. Só vence quem está melhor preparado, então vá e vença!
Até o próximo artigo. Um abraço!
Sérgio de Souza Carvalho Jr. – Comandante e apresentador War Business
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