No dia 28/09/18 eu participei do 5º Fórum ASAS – “Aviação Naval da Marinha do Brasil, o Futuro”. No evento foram tratados vários assuntos muito interessantes, e destaco por exemplo que a “Amazônia Azul”, faixa do Oceano Atlântico que a nossa Marinha deve patrulhar e proteger, é maior do que a nossa Amazônia verde, possuindo uma grande diversidade de espécies em seu bioma marítimo e riquezas naturais, sem falar das reservas de petróleo e minerais estratégicos para a nossa economia. Sabia que o tráfego marítimo é o maior meio de transporte das nossas importações e exportações, correspondendo à 95% da movimentação de carga? E que 91% do petróleo produzido no Brasil é retirado do mar? Sem falar que 80% da população brasileira vive na faixa litorânea e 85% da utilização da energia elétrica do nosso país é feita a até 200Km da costa, portanto passível de um ataque inimigo devastador realizável pelo mar com o uso de porta-aviões? Tamanha é a importância do assunto, que várias autoridades civis e militares estiveram presentes no evento.
O tema principal do 5º Fórum, realizado pela revista ASAS, foi justamente como a Marinha deve prover seus meios (embarcações e aeronaves) e recursos humanos para cumprir sua missão. E dentro desse aspecto, um fato me chamou bastante a atenção.
Está havendo uma atualização dos equipamentos dos helicópteros embarcados em navios, utilizados em missões de patrulhamento e salvamento, que passaram seus instrumentos analógicos do painel de voo para telas digitais. Esse procedimento de mudança para os pilotos é muito delicado e demandou mudanças consideráveis no treinamento dos pilotos para que não ocorressem acidentes.
Aí fica a minha pergunta: em sua empresa já houve alguma mudança drástica de sistema que também causasse a necessidade de um treinamento específico? Se sim, isso foi feito de forma adequada com os colaboradores envolvidos no uso do sistema, ou foi feito sem a devida atenção.
Na Marinha Brasileira não aconteceu nenhum acidente, mas… e nas empresas? Quantas não tiveram prejuízos financeiros elevados por causa de mudanças mal planejadas e executadas?
O que podemos aprender com a gestão militar, para evitar esses prejuízos? As mudanças na Marinha demoram um bom tempo de planejamento para depois haver uma rápida execução. No mundo corporativo o pseudo “planejamento” exige mudanças rápidas para que hajam resultados rápidos, mas que nem sempre evitam “acidentes”. A Marinha é muito cuidadosa com o que vai fazer e o como fazer, até porque falhas podem causar acidentes e mortes, sem falar que atua com um budget muito restrito, onde deve saber usar muito bem os recursos financeiros de que dispõe. Não há espaço para errar… essa é a tônica na Marinha. Vidas estão em jogo e por isso um planejamento bem feito e treinamento bem executados são essenciais para o cumprimento das missões.
Recentemente acompanhei um case, de uma empresa que precisa passar por uma profunda mudança de sistemas para alavancar suas vendas, mas que no planejamento inicial não teve o devido cuidado em pensar no “que” e no “como” fazer. Isso acabou gerando a troca de fornecedores, mudanças na equipe de TI da empresa, atrasos enormes na execução com consequente perda de receita por causa da falta de vendas oriundas do novo sistema, além da necessidade de alocar mais recursos além do budget para solucionar os problemas do planejamento “rápido” porém de execução longa e difícil.
Cada empresa tem a sua “Amazônia Azul” para cuidar, que pode ser sua carteira de clientes, parque fabril, ou até mesmo capital humano e intelectual, mas uma coisa é certa, não dá pra sair fazendo as coisas sem pensar com calma e cuidado, sem planejar e se preparar adequadamente para a execução. Menos rapidez e mais assertividade no “como fazer” são essenciais para se atingir os objetivos.
A Marinha Brasileira desenvolve ações bem abrangentes, que vão desde missões humanitárias que envolvem uma logística complexa, até o patrulhamento de rios e da nossa costa, mas uma coisa não abre mão: planejamento com execução das ações “seguindo o manual”. Isso mesmo! Para cada ação o planejamento prevê o treinamento e uso de procedimentos, que envolvem o adestramento adequado da tropa para o uso dos recursos necessários.
Sua empresa tem planejamento para as mudanças? Nele são previstos os recursos humanos e materiais necessários? Também está previsto o treinamento quando necessário ou o grau de capacitação das pessoas que vão executar essas mudanças? Seu “painel de voo” é analógico e sua empresa agora é digital? Reflita sobre isso…
Um abraço à todos!
Autor: Sérgio de Souza Carvalho Jr.